Crítica | Alérgica a WiFi “diverte, encanta e emociona”

Longa filipino discute de forma lúdica sobre nossos relacionamentos interpessoais e como as mídias sociais os afetaram.

Kdoo Spiller
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Publicitário, designer gráfico e nas horas vagas um entusiasta de filmes, séries, animes, tokusatsus e HQ's desde os anos 90... Sem essa de Marvete ou DCnauta:...
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É ponto comum dizer que as redes sociais mudaram a forma como nos comunicamos, nos expressamos socialmente. Já temos uma geração que só consegue se relacionar com o mundo por meio de uma selfie ou um tweet e, graças à situação calamitosa causada recentemente pela pandemia, isso se acentuou nos últimos meses. Claro que tudo isso se reflete na vida afetiva das pessoas, tendo aí seus prós e contras… Mas em muitos casos, o que (ou quem) precisamos em nossas vidas não está nem a um clique na tela de um smartphone: basta olhar pro seu lado.

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Lançado originalmente em 2018 nas Filipinas, Alérgica a WiFi (Ang Babaeng Allergic Sa WiFi) aborda justamente esse ponto. Num primeiro momento retratado como um matinê adocicado voltado para o público jovem, o longa escrito e dirigido por Jun Robles Lana foge um pouco dessa linha ao se utilizar inteligentemente desse pano de fundo para fazer sua crítica social, marca registrada do cineasta. No caso, é a reflexão sobre os nossos relacionamentos interpessoais e como as mídias sociais os afetaram.

Nesta fábula moderna, somos apresentados ao introvertido nerd Áries (Jameson Blake). Avesso às redes sociais, ele se apaixona por Norma (Sue Ramirez) desde a primeira vez que a vê em sua faculdade. Incapaz de se declarar seus sentimentos à jovem devido a sua timidez, o garoto passa a nutrir um amor platônico e admirá-la secretamente. No entanto, o convívio entre os dois começa a ficar mais frequente quando Norma começa a namorar ninguém menos que Leo (Markus Paterson), o irmão mais velho de Áries e um dos jogadores mais populares do time de basquete da universidade.

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Para completar, a garota começa a apresentar sintomas de uma doença rara: o Transtorno de Hipersensibilidade Eletromagnética (EHS), o que a faz ficar extremamente debilitada quando está próxima de ambientes que tem sinal de WiFi. A situação faz com que a jovem se mude para a casa de sua avó no interior do país para assim escapar de sua sina e iniciar sua reabilitação. Esse afastamento forçado da tecnologia faz com que Norma perceba que a felicidade pode estar nas coisas mais simples e bem mais próxima do que ela enxergava anteriormente.

Em primeiro lugar, é preciso louvar a química vista no trio principal. Sue é extremamente cativante e magnetiza pelo olhar as atenções toda vez em que está em cena. Além disso, a atriz soube flutuar por todas as emoções vividas por Norma ao longo de seu processo de amadurecimento – desde questões como lidar com o novo casamento de sua mãe, a deslealdade de sua melhor amiga Margaux (interpretada por Adrianna So, a Pearl da websérie Gameboys) e seu relacionamento confuso com os dois irmãos Miller. Ramirez consegue transmitir cada sentimento, cada conflito da personagem de forma competente, escapando do estereótipo de protagonista feminina em um drama teen.

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Já Jameson nos traz um Áries muito retraído, com poucas expressões. No entanto, o garoto se transforma quando a cena pede um sentimento mais aflorado, principalmente quando contracena com Sue. E a câmera parece estar sempre apaixonada por Blake, procurando constantemente pegar seus melhores ângulos, deixando sua presença ainda mais forte.

E mesmo não tendo os mesmos recursos que seus amigos de tela, Paterson não faz feio e interpreta Leo de maneira honesta. Apesar de parecer duro demais – e mesmo inseguro – em algumas partes do filme, o jovem mostrou potencial ao estrelar uma forte cena na reta final ao lado de Blake. Como sua primeira experiência no cinema, Markus não decepciona e apresenta que é capaz de evoluir cada vez mais.

Vale destacar também a atuação de Angeli Nicole Sanoy (também de Gameboys) como Macha, a melhor amiga de Áries. A jovem atriz joga energia em suas cenas, sendo a voz da sensatez em muitas delas – mesmo quando isso envolve as linhas mais engraçadas do roteiro. Macha é aquele tipo de amiga que todo mundo precisa e Sanoy a defende em tela brilhantemente.

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Mesmo soando clichê algumas vezes e descartando alguns personagens secundários sem dar muitas explicações, o tom agridoce do filme o diferencia de outras comédias românticas. Seu roteiro aborda com leveza e doçura os temas propostos, mas sem cair no melodrama visto em produções similares ou mesmo em telenovelas. Ele consegue, juntamente com uma direção precisa, nos transportar para aquele pequeno universo e nos fazer se importar com seus personagens. Somando a isso uma fotografia absurdamente linda, canções que realçam o clima (mérito da cantora Keiko Necesario) e com uma trilha sonora que nos comove, a produção entrega o que propõe com louvor.

Com uma linguagem jovem e universal, o trabalho de Robles Lana e sua equipe transmite uma mensagem importante nos tempos atuais e merece ser descoberto. Ironicamente, Alérgica a WiFi fala sobre conexões reais, onde se deixa o mundo virtual de lado e abraça as pequenas (e preciosas) coisas que a vida oferece. No fim, não vai ser uma publicação nas redes sociais que fará você ter a real experiência de amar e ser amado… É viver intensamente cada minuto que te dá esse privilégio.

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Alérgica a WiFi está disponível na Netflix.

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