Buscando, de Aneesh Chaganty, conta a história do pai David Kim (John Cho) que tem sua estrutura familiar abalada duas vezes: a doença de sua esposa e o sumiço de sua filha. Desaparecimento pode parecer uma fórmula clichê para roteiros de suspense, mas o filme trouxe uma nova forma de enxergar essa narrativa tão comum.
A primeira coisa que vemos é a tela do windows 2000. Sim, aquela com a montanha verde e o céu bem azul. E dali em diante, tudo o que vemos vem através desta tela, no computador da família e em seus celulares. É bem fácil ser “pego” pela apresentação do filme, principalmente se você fizer parte dessa geração que cresceu junto com a internet e foi se atualizando e mudando de plataforma. Muito além da identificação visual, o filme levanta a questão: “Você é na internet o mesmo que você é fora dela?”.
Somente quando sua filha de 16 anos desaparece, David começa a descobrir como de fato a jovem Margot (Michelle La) se relaciona com o mundo, já que sua única pista para encontrar a menina é o próprio computador dela. E é nesse momento que Chaganty constrói uma agonia crescente, dirigindo o filme de uma forma que o personagem de Cho é visto como um louco pela mídia e, cruelmente, se torna um “meme” nas redes sociais.
Sem dúvidas, o ponto alto da direção, além da escolha de enquadramentos nos recursos de mídia, é a forma dolorida como Chaganty nos faz sentir uma certa culpa por fazer parte dessa rede. É angustiante vê-lo assistindo transmissões de sua filha, fotos, transferências bancárias, tentando descobrir senhas e entendo que relações Margot realmente tinha com as pessoas a sua volta.
A história é repleta de reviravoltas em um roteiro explorado na medida certa. O texto consegue fazer com que o público compartilhe os sentimentos desse pai, que sempre parece estar próximo de uma resposta, até descobrir que está tão longe quanto antes.
O trabalho de pós produção é extremamente detalhista e bem produzido, e claro, existe o belo trabalho de tradução de cada ícone, conversa e site, feito pela Sony Pictures. Se tratando de aspectos fotográficos talvez alguns planos caseiros da família tenham sido estabilizados demais para serem, de fato, de uma filmagem amadora. Mas sem dúvidas, a maioria dos planos são bem realistas.
Assistir a obra traz um certo desconforto quanto a invasão online que nós mesmos permitimos que aconteça, mas de certa forma também pode-se deixar o cinema sentindo que acabou de assistir um filme rico em detalhes e que foi pensado em cada frame.