Tenho que dizer, quase me desculpando por todos nós, os que lêem: é uma voz que não costumo ouvir esta voz de Nei Lopes em “Contos e crônicas para ler na escola”, Editora Objetiva, 173 páginas. Alguém tem dúvida de que falta repercutir na literatura (não só na literatura) o viver dos que têm pouco ou quase nada? Nei Lopes assume esta posição e não é de hoje, faz desta sua coletânea de contos e crônicas um meio para que se dê eco ao coro de toda uma gente que não frequenta as nossas páginas literárias, frequenta apenas as páginas policiais ou aquelas que tratam de nosso querido carnaval. Nei Lopes se constitui assim em espécie de herói literário, porque traz para a literatura o que dela a nossa comunidade, através de seus honestíssimos mecanismos de exclusão, esconde. Enfrenta, portanto, o silêncio, como parece sempre ter feito, com tremenda malandragem, dá o seu recado esperto, encaixa nos contos e crônicas o seu discurso bem claro, nem todos da sua vizinhança são iletrados, ignorantes. São gente que produz, que povoa de criatividade a cultura deste país. É verdade, vivem entre nós, além dos seguros túneis urbanos, incríveis personagens, de histórias memoráveis que o autor coleciona e apresenta, cheio de carinho e também de indignação. Não tem caô, Nei Lopes ataca o senso comum do sacana privilegiado. Recomendo este livro porque não se encontra facinho por aí autor tão indignado e ao mesmo tempo tão erudito, capaz de bater de frente contra a máquina com a força necessária ao mais justo dos fins. Sabedoria pura.