Com uma fórmula que já conhecemos, “Eu sou mais eu”, de Pedro Amorim, conta a história de Camila Mendes (Kéfera Buchmann), uma cantora pop de sucesso. Com traços arrogantes, somos apresentados a um personagem vazia, com traços exagerados de uma personalidade difícil.
Em meio a uma vida de muito dinheiro, falsos namorados e constante preocupação com sua carreira, a vida de Camila muda quando, ao tirar uma foto com sua fã número um (Marcella Rica), Camila volta aos seus dias de ensino médio. Na escola, passa por constantes humilhações ao lado de seu único amigo, Cabeça (João Cortês).
A proposta de ter um filme que volta para os anos de 2004, torna como palpite a intenção de o filme ter como alvo dois tipos de público: os adolescentes da fase atual e os que foram adolescentes em 2004. Públicos que apesar de terem certos pontos em comum, também carregam traços bem diferentes. Sendo parte da geração que foi adolescente em 2004, senti falta de um melhor trabalho de trilha sonora. Não só nos momentos pontuais da trama, mas ao longo de toda história. Um som mais bem trabalhado, certamente, teria trago uma sensação nostálgica e de ambientação melhor.
Dentro desse mesmo universo exagerado, o trabalho de arte não causou tanta identificação. O figurino da Camila de 2004 , definitivamente, não era usado em 2004. E o quarto da personagem, local sempre muito importante em filmes adolescentes, é uma grande mistura de informações sem muita conexão e contraditórias. Ao longo de todo filme, Camila é afirmada como uma grande fã de música pop, mas atrás de sua porta um poster da Ella Fitzgerald atrai os olhos a todo momento. As colagens na parede, os objetos, as texturas na parede, nada parece conversar muito bem. Todo o trabalho da arte pareceu ficar mesmo para Camila adulta e famosa.
A fotografia do filme, também já conhecida por nós, traz planos mastigados e movimentos simples, mas com desenhos de luz que ajudam. É como se o filme fosse a junção de tudo o que todos já vimos com a soma de que tudo é muito exagerado. Destaque fica mesmo para Décio (Arthur Kohl), avô de Camila, que é provavelmente o personagem que menos aparece, mas que consegue gerar uma empatia muito maior que todos os outros.
É cada vez mais questionável a forma como o adolescente é retratado nos produtos audiovisuais. Sempre por atores mais velhos, sempre por histórias escritas e desenvolvidas através do ponto de vista adulto e, atualmente, massacrando personagens do youtube para dentro dos filmes mesmo que eles não conversem mais com o público.
No contexto brasileiro, as influências dos filmes norte americanos é clara, uma realidade totalmente distante que dificulta ainda mais uma empatia com o tema. Exatamente como aconteceu em “Eu sou mais eu”.
Faltou empatia, pesquisa, aprofundamento e mais realismo na história. Com um público confuso, “Eu sou mais eu” parece ser um filme para ninguém.