Baseado em fatos, Judas e o Messias Negro é um filme sobre a vida e as circunstâncias que envolveram o assassinato, em 1969, do líder do partido dos Panteras Negras de Illinois, Fred Hampton. Dirigido por Shaka King e com produção de Ryan Coogler (Pantera Negra), sua estreia no Brasil será dia 25 de fevereiro nos cinemas e já conta com diversas indicações.
Na vida real, Fred Hampton, interpretado por Daniel Kaluuya (Corra!, Pantera Negra), tinha 21 anos quando foi morto em seu apartamento enquanto dormia. Apesar do FBI nunca ter assumido seu envolvimento, a trama aborda justamente como isso teria ocorrido e conta essa história a partir do olhar de William O’Neal, informante do FBI infiltrado no partido e interpretado por Lakeith Stanfield (Atlanta, Joias Brutas).
O tom e tema da obra ficam evidentes na primeira cena que o roteiro tenso coloca uma situação entre William, ou Bill como é chamado, e o agente do FBI Roy Mitchell (Jesse Plemons), quando Bill afirma que um distintivo policial é mais assustador do que uma arma. Essa simples frase e comparação deixam o policial sem entender como um mero documento poderia ser mais assustador do que um instrumento que pode tirar sua vida, evidenciando a falta de noção sobre o racismo, preconceito e opressão que a população negra enfrenta, especialmente vinda de pessoas como ele próprio.
E é justamente para cessar essa opressão e garantir uma vida melhor aos seus companheiros nessa luta que Hampton, chairman do partido dos Panteras Negras, diz trabalhar: fazendo seus discursos e desenvolvendo projetos sociais. Conforme o partido cresce em número de membros e engajamento, Hampton passa a ser visto como uma ameaça pelo FBI, que desenvolve um plano para contê-lo (e posteriormente, assassiná-lo) e evitar que se torne o que chamam de “messias negro”.
O início do filme é marcado por cenas de gravações reais do movimento político na época, a população nas ruas e discursos. Com isso, o diretor cumpre de forma brilhante a proposta de contextualização desse momento da história dos Estados Unidos para o espectador, deixando a história falar por si. Na mesma linha, há cenas intercaladas de uma entrevista feita com Bill, com perguntas chave para o direcionamento da narrativa, mas sem nunca se tornar cansativo.
No tocante à atuação, é preciso destacar o trabalho de Kaluuya, indicado na categoria de melhor ator coadjuvante nos prêmios Globo de Ouro, SAG Awards e Critics Choice Awards, e não é à toa. A naturalidade e veemência com que faz os longos discursos de seu personagem realmente chamam atenção e se assemelham ao próprio Fred Hampton, que tem pequenos trechos mostrados ao final. O mais impressionante, porém, é a habilidade para sustentar o silêncio e os momentos de tensão – que são muitos – ao lado também de Lakeith, o “Judas” da história, que, por sua vez, nos faz sentir na pele a angústia e constante ansiedade de seu personagem. De fato, o elenco não decepciona, inclusive tendo sido indicado na categoria de Melhor Elenco do Critics Choice Awards.
Outro ponto que vale a pena mencionar é a trilha sonora, combinando perfeitamente com o tom e os timings do filme, especialmente os momentos de tensão. A canção Fight For You, de H.E.R., foi composta para o drama e indicada na categoria de Melhor Canção do Globo de Ouro e Critics Choice Awards.
Contando com uma complexa construção de personagem, em especial a dualidade tanto na ação quanto na personalidade de Bill O’Neal, Shaka King consegue nos manter intrigados e envolvidos durante as duas horas de duração do filme, sentindo a tensão e angústia quase palpáveis de uma época e movimento extremamente importantes na história.
Judas e o Messias Negro estreia dia 25 de fevereiro nos cinemas.
*Fomos convidados pela Warner Bros. Brasil a ver o filme. O local aonde foi realizada a sessão cumpriu rígidos protocolos de segurança bem como higienização.