Dedicado ao 75º aniversário da bem-sucedida rebelião de Sobibor, o longa-metragem reflete a história real da revolta liderada pelo soldado soviético Alexander “Sasha” Pchersky no campo de concentração nazista. Comovente e até mesmo chocante em determinados momentos, o filme – mesmo abordando um tema tão delicado como o Holocausto – cumpre perfeitamente o papel de mexer com as estruturas de quem o assiste.
Ambientado em Sobibor, no sudeste da Polônia, o filme começa com um clima leve e, à princípio, descontraído. Música tocando ao fundo e soldados alemães com falsos sorrisos estampados enquanto aguardam a chegada de um trem repleto de judeus ansiosos por abrigo e melhores condições de vida durante a guerra. Mas, mesmo com um clima aparentemente amistoso, é perceptível os olhares dos trabalhadores locais, como se quisessem avisar que há algo de errado naquele lugar.
Logo a seguir, uma reunião com soldados alemães se inicia, onde cargos de emprego são oferecidos aos recém-chegados, dando a ilusão de que as coisas iriam a dar certo. Separa-se, então, aqueles que servirão como mão-de-obra daqueles que não se encaixam em nenhuma função, de forma que o segundo grupo é afastado e direcionado para um casarão onde cortam seus cabelos e tiram suas roupas. A premissa é de que um banho será oferecido, e depois eles seriam acomodados, mas quando a porta se fecha… Sem dó nem piedade, corpos de mulheres, crianças e idosos foram expostos, na verdade, à câmaras de gás, marcando uma forte cena.
Ao conhecer os verdadeiros alemães, liderados pelo comandante Karl Frenzel (Christopher Lambert, Highlander e Mortal Kombat), somos submetidos à uma série de atrocidades cometidas pelos nazistas durante o período. Castigos e humilhações fazem parte do repertório, e há momentos em que falta o ar com tanta crueldade. Um misto de tristeza e angústia toma conta quando, por exemplo, prisioneiros judeus são explorados na condição de cavalos puxando carroças para uma parte dos soldados alemães, enquanto outros gargalham e ridicularizam a situação como se tudo não passasse de um grande circo.
Se originalmente o campo de concentração nazista contou com cerca de 250 mil judeus exterminados; no filme, apesar do número não ser equivalente, as cenas de assassinato não deixam por menos. Além da morte inicial daqueles que não se encaixavam em nenhum tipo de trabalho, há também muito sangue derramado de forma completamente aleatória para simplesmente reafirmar o poder alemão.
No entanto, a parte mais aguardada certamente é quando um grupo de judeus, liderado pelo soldado alemão Alexander Pechersky, se une para tentar a fuga em massa do local. Toda a articulação e expectativa que se cria em volta do motim são o ponto alto do filme, sem sombra de dúvidas. Mas, apesar de conseguir alcançar exatamente a proposta do filme de relembrar a rebelião e homenagear Pechersky, há cenas um pouco exageradas e até mesmo desnecessárias. Tudo bem em utilizar o silêncio como recurso para propagar o clima de tensão, mas fazê-lo por um longo intervalo de tempo pode causar certa monotonia.
Representante da Rússia ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro 2019 e baseado no livro “Alexander Pechersky: Breakthrough to Immortality”, o filme marca a estreia de Konstantin Khabensky como diretor, mas sua atuação como protagonista também está de parabéns. Para aqueles que têm um interesse particular em filmes voltados para história e guerra, Sobibor certamente é um filme que vale a pena ser conferido nos cinemas. Mas é bom ir preparado porque o longa não trata os campos de concentração nazista de maneira sutil: ele, na verdade, é um verdadeiro tapa na cara e é preciso ter estômago para encarar isso.