O que fazer quando o povo já não confia mais em seus salvadores? Quando a aparição de super-heróis já não traz mais o sentimento de conforto, mas sim medo e insatisfação? Esta é a premissa que Mark Millar imaginou para o arco Guerra Civil, que aconteceu em 2006 e se estendeu por praticamente 140 edições.
Guerra Civil se trata sobre responsabilidades, o mundo vem sofrendo diversas catástrofes dos quais os Super-Heróis são indiretamente ou diretamente culpados. Após a última delas ter causado a morte de centenas de pessoas, pelos negligentes Novos Guerreiros, o governo norte-americano se vê obrigado a tomar uma iniciativa, implantando a lei de registro dos super-heróis, uma medida que responsabiliza os heróis por suas atitudes, faz com que sejam treinados e instruídos por pessoas qualificadas e engajadas para as missões que melhor se adequem com seus poderes.
Me respondam caros leitores, como vocês se sentiriam sabendo que a sua vida e de todos os seus entes queridos estão nas mãos de um adolescente irresponsável, que apenas com um piscar de olhos poderia acabar com tudo o que vocês construíram até aqui?
Tony Stark, vulgo Homem de Ferro, se vê na obrigação de colocar o bem da população acima de seu próprio e só não fica a favor da lei como também é o garoto propaganda da mesma. Tony defende que os heróis precisam de permissão para poder atuar e que ninguém deva estar acima da lei, afinal, se um policial necessita de permissão e treinamento para agir, por que os super-humanos deveriam manter a paz apenas por eles mesmos? Se os heróis não respeitam as leis, o que os diferencia dos vilões? O sentimento de justiça sendo feita é particularmente pessoal, é uma linha tênue que oscila entre o próprio ego e o bem maior e não podemos deixar que exista seres acima da lei, pois se não os super-heróis, quem irá nos proteger? A lei ampara efetivamente cada pessoa de uma sociedade e é nossa obrigação como cidadãos que isso permaneça assim.
Já o Bandeiroso Capitão América, o símbolo da liberdade, que por muito tempo lutou por nós e por nossos direitos, vai na contramão disso tudo e se posta contra o ato de registro, defende que os heróis devem estar acima da lei e que mantenham suas identidades secretas para poderem defender seu povo e suas famílias, pois para cada ato de heroísmo, existem diversos outros super-vilões os caçando e esperando por uma brecha para poderem acabar com tudo o que nossos heróis mais amam.
A irresponsabilidade do governo para guardar informações já é algo recorrente e em um mundo onde o terrorismo cibernético ganha cada vez mais visibilidade, como poderiam então estarem seguras as identidades dos heróis?
Steve lutou na Segunda Guerra Mundial e sabe que pessoas com tanto poder tendem a fazer atos de barbaridade, e deixar alguém como Tony Stark virar júri e executor, poderia levar os heróis à uma chacina sem precedentes.
Como diria o historiador britânico, John Emerich: “O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.” O que fariam os Estados Unidos se tivessem em mãos a máquina de guerra perfeita? Me antecipo e respondo a vocês: 1945, Segunda Guerra Mundial, Japão, Hiroshima e Nagasaki, alvos civis. Sim, o maior ato de sofrimento imposto à um país veio pelas mãos dos americanos com sua “arma suprema”, e isso jamais será esquecido. Os Estados Unidos da América são o símbolo do capitalismo em seu mais puro significado e procuram lucro em qualquer tipo de operação, mesmo que para isso signifique colocar vidas civis em perigo, portanto não podem decidir quem serão os vilões.
Guerra Civil não nos dá um lado abertamente certo, pois ambos possuem questionamentos e pontos a se levar em consideração e é por essas e outras que ela é sempre lembrada por ser uma boa história dos anos 00. Afinal caros leitores, DE QUAL LADO VOCÊS ESTÃO?
*O texto não remete a opinião do CDL, mas sim do autor e suas experiências com a história.*
Revisado por: Bruna Vieira.