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O Cabana do Leitor convidou a administradora do grupo Girls on Power e da página Pop Up para expressar seus sentimentos sobre a Mulher-Maravilha.
Mulher-Maravilha, princesa Diana de Themyscira, foi criada em 1941 e seus quadrinhos nunca foram descontinuados. Membro fundadora da Liga da Justiça, ícone feminista e agora embaixadora honorária da ONU. Sem dúvida, ela é a heroína mais conhecida dos quadrinhos.
Em 1975, uma série de televisão baseada na personagem surgiu, onde Diana era interpretada pela atriz Lynda Carter, que ficou no papel até 1979, ajudando a aumentar a popularidade da Mulher-Maravilha. Mas infelizmente, umas das mais antigas e importantes heroínas da história parece ter morrido para o mercado de séries e filmes desde então.
O cinema e a televisão vem experimentando uma superlotação de heróis, pelo menos desde 2008. Inúmeras séries e filmes estão sendo sucesso de audiência e bilheteria, e o público fã de quadrinhos parece estar vivendo umas das melhores épocas. Mas onde estão os produtos feitos para mulheres?
É completamente sem sentido explicar, em pleno 2016, que mulheres também leem quadrinhos ou que, pelo menos, gostam de assistir esse tipo de filme. Está mais do que óbvio que mulheres são sim um grupo de consumo enorme para esse mercado. Foi comprovado que praticamente metade dos leitores de quadrinho são mulheres e que hoje fantasias infantis de heroínas vendem mais do que fantasias de princesas. O “interessante” é que as produtoras de conteúdo audiovisual se contradizem. Eles ganham o nosso dinheiro sem nos dar o produto que queremos. Os últimos filmes de heroínas que tivemos foi Mulher-Gato e Elektra, de 2004 e 2005 respectivamente. São filmes lançados a mais de 10 anos que hoje viraram piada para o público fã de quadrinhos. As pessoas podem argumentar que filmes como Demolidor (2003), Quarteto Fantástico (2005), Motoqueiro Fantasma (2007) ou Lanterna Verde (2011) também entram nesse grupo de filmes rejeitados. A diferença entre esses filmes é que todos os outros tiveram uma segunda chance: Demolidor ganhou uma série, Motoqueiro apareceu em Agentes da Shield, Quarteto não agradou aos fãs, mas a indústria investiu no filme mesmo assim e um dos personagens mais esperados do universo cinematográfico da DC é o Lanterna Verde.
Se todos os heróis merecem uma segunda chance, não existe explicação para que toda uma indústria rejeite metade dos seus consumidores apenas pela falha de alguns dos seus produtos. Esperamos da Marvel mais Viúva Negra e Feiticeira Escarlate, que nada mais são do que complemento para os Vingadores, quando nos quadrinhos elas são personagens de extrema importância. Capitã Marvel está prometida, mas podemos esperar bastante até lá.
Vemos a Arlequina ser reduzida a um produto de exposição sexual, praticamente ignorando mais de 20 anos de evolução da personagem, retrocedendo sua história e relembrando todos nós, com uma estampa bem grande em sua jaqueta, que ela é “Propriedade do Coringa”.
Doze anos depois do lançamento do último filme com uma protagonista feminina, a DC se sente na obrigação de fazer um longa-metragem da heroína mais icônica da cultura pop. Serão 75 anos de representatividade feminina resumida em mais ou menos duas horas. É a personagem que já representa o feminismo e a força da mulher por anos e foi escolhida pela ONU por esse motivo. Em um período da história onde as mulheres estão se unindo para lutar contra o machismo e o patriarcado, nada mais justo do que ressaltar esses temas no primeiro – e tardio – filme da Mulher-Maravilha. A heroína que todos conhecem, mas que não recebe a devida importância.
Faz pouco tempo que presenciamos um impacto cultural absurdo com a Arlequina: meninas jovens se fantasiando e se inspirando em uma personagem que nem heroína pode ser considerada. Se todo esse esforço for direcionado para uma Mulher-Maravilha feminista, conseguiremos empoderar mulheres de todas as idades. Faremos mais uma vez, com que todos percebam que não precisamos ser salvas por ninguém, que nós podemos ser nossas próprias heroínas. É imprescindível representar os interesses das mulheres, dar voz para esse grupo de forma real e moderna. Temos que mostrar nossas vontades, realizações, sonhos e força. Em uma luta por espaço que já dura anos, ter a mídia nos representando de uma maneira correta será um grande avanço.
Diana é uma mulher firme, residente de uma ilha governada por mulheres poderosas. Ela é inteligente, decidida e forte. É uma princesa guerreira, herdeira dos deuses e Deusa da Guerra que triunfa com amor. Sua personagem vai muito mais além do que apenas um rosto bonito na Liga, uma versão feminina do Super-Homem ou um caso de romance do Batman.
Nós precisamos da Mulher-Maravilha.
Precisamos da sua força e da sua fama para espalhar uma mensagem de igualdade para todos. Precisamos aproveitar essa oportunidade para alcançar uma nova geração de meninas e representar as mulheres, principalmente as leitoras de quadrinhos. Temos que nos firmar nesse mercado cinematográfico que cresce cada vez mais e insiste em não nos dar espaço. Não nos contentamos apenas com Jessica Jones ou Supergirl, queremos a Deusa da Guerra.
Nossa esperança, como leitoras, está neste filme que ironicamente teve produção e roteiro dado quase que inteiramente nas mãos de homens. Esperamos que Patty Jenkis, como diretora, tenha o espaço que merece e que a DC Comics não nos decepcione mais uma vez. Esperamos muitas pequenas fantasiadas, muitas jovens empoderadas e muitas mulheres representadas. Queremos que Diana seja um exemplo de mulher forte e independente. Precisamos que o filme da Mulher-Maravilha seja feminista, para que com isso as mulheres consigam conquistar um pouco mais desse espaço que por anos nos foi rejeitado.